segunda-feira, abril 05, 2010

Montserrat Martins (Psiquatra do Juizado da Infância e Juventude de Porto Alegre)

Psiquiatra do Juizado da Infancia e Juventude de Porto Alegre. Colaborador eventual de artigos do Jo ... Leia mais! http://www.naturaterra.com.br/

Fazer o que ?
Olhares e mãos aflitas nos pedem que aceitemos os panfletos que nos entregam - pois foi o emprego que conseguiram - mesmo que seja só para colocarmos os papéis no lixo mais próximo. Para pessoas com consciência social e ambiental, isso cria mais um pequeno conflito de consciência, que é o desperdício de papéis não reciclados para finalidades muito passageiras. A mesma dúvida entre pegar as sacolas de plástico nas compras e reaproveitá-las como sacos de lixo, ou levar sacolas de pano, entre tantas preocupações do dia-a-dia de quem quer "fazer a sua parte".

Informações graves sobre problemas ambientais e climáticos, como os debatidos agora em Copenhague, geram preocupações cotidianas nos que vem recebendo educação ambiental desde pequenos, nas escolas. Há um termo, inclusive, para designar o comportamento dos mais angustiados, chamados pejorativamente de "ecochatos" por cobrarem dos outros atitudes tão cuidadosas (e até detalhistas) como as suas.

Racionalmente, sabemos que a solução depende de cada um fazer a sua parte. Mas não é justo "torturarmos" a consciência das novas gerações com detalhes "ambientalmente corretos", sem que cobremos atitudes concretas daqueles a quem caberia zelar pelo conjunto da sociedade. Afinal, se é justificável em livros didáticos ou revistas de valor cultural uma boa qualidade de impressão, não haveria uma solução melhor para os panfletos - como, por exemplo, regulamentar que sejam com papéis reciclados e indicações de sites para os interessados? E as notícias sobre plásticos "oxibiodegradáveis" tem algum fundamento, no sentido de que representam alguma "redução de dano" ao menos? Existem perspectivas de criação de formas de materiais que correspondam a estas expectativas ?

As responsabilidades devem ser entendidas como proporcionais à capacidade de cada um em contribuir nas soluções dos problemas de todos. Se o custo do consumo de álcool combustível é maior que o da gasolina, podemos exigir das pessoas que prejudiquem o seu orçamento familiar para usar o combustível menos poluente? Podemos exigir o tratamento de resíduos se não viabilizamos incentivos para a fabricação de filtros químicos, a preços acessíveis às outras indústrias ?

As campanhas tipo "faça a sua parte", requerem a inclusão das pautas de Copenhague em todos os níveis de governo e de entidades empresariais. Só com planejamentos de médio e longo prazos, prevendo a evolução de nossos modelos de produção, podemos fazer mais do que criar jovens angustiados com um futuro que foge ao seu controle. Para que possamos fazer campanhas pelo "consumo consciente" é preciso que as autoridades e lideranças sociais possam, enfim, oferecer alternativas viáveis ao público, para que esse possa se aliviar em saber que pode fazer a diferença, mesmo - e que suas angústias valham a pena, afinal.

Sobre a transformação do Hospital São Camilo em uma Fundação de Direito Privado

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